"Escrever é o meu remédio contra a melancolia"

Depois do Óscar, 'O Segredo dos Seus Olhos' é lançado em Portugal, em livro e DVD.
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O autor do livro O Segredo dos Seus Olhos passou por Lisboa, onde falou de literatura, da vida depois do Óscar e do seu remédio contra a melancolia.

"Na adolescência escrevia poemas para engatar miúdas, e sim... até tinha sucesso. Mas nunca pensei em tornar-me escritor", conta entre risos o escritor argentino Eduardo Sacheri, que, em trânsito entre a feira do livro de Frankfurt e Buenos Aires, onde vive, parou em Lisboa para lançar a obra O Segredo dos Seus Olhos (Alfaguara). O romance foi a base para o filme homónimo de Juan José Campanella que, na última edição dos Óscares de Hollywood, ganhou a estatueta dourada na categoria de Melhor Filme estrangeiro. Em Portugal a fita foi recentemente lançada em DVD.

A história desenrola-se a partir do olhar de Benjamin Chaparro, um funcionário judicial que, no momento da reforma, se confronta com um vazio existencial que tenta colmatar escrevendo um livro. Regressa então ao seu passado, a um crime, a uma mulher e a um amor para os quais sempre teve muitas perguntas e poucas respostas.

Eduardo Sacheri, 43 anos, assume que esta "é uma reflexão sobre o castigo, o amor", mas também na forma como, para muita gente, "o passado se torna uma fonte inesgotável de alimento do presente, o que as impede de avançar na vida".

Depois dos poemas adolescentes e de anos a escrever contos em torno do futebol, o escritor também não quis ficar parado e avançou para narrativas mais complexas. O Segredo dos Seus Olhos foi o seu segundo romance e aquele que o colocou sob os holofotes do mundo, não apenas literário como cinematográfico. Sacheri, que escreveu o argumento em conjunto com Campanella, diz que está "satisfeito" com o resultado do filme, mas lamenta que a história e as personagens "percam muita da ambiguidade que tinham no romance".

E o que muda na vida de um escritor mais ou menos desconhecido depois de um prémio desta importância? "Muda tudo e não muda nada", confessa Sacheri, que continua dizendo: "Tenho tido vários convites para escrever para cinema, tenho viajado muito. Estou cansado. Mas muito feliz e muito honrado. É como se a minha equipa de futebol tivesse marcado golo e eu ainda não tivesse parado de gritar e saltar."

A personagem Benjamin Chaparro, escritor indeciso, melancólico e impulsivo, tem sido apontada como um alter-ego do próprio Sacheri. Concorda? "Sim, um pouco. Mas já fui muito mais como Benjamin. Era, de facto, uma pessoa melancólica, sempre a pensar no que devia ter feito e não fiz, nas coisas perdidas, no tempo irrecuperável. Depois quando comecei a escrever mais e as coisas começaram a acontecer fui deixando de ser assim. A melancolia tem algo de poético mas também de paralisante." O remédio? "Escrever é o meu remédio contra a melancolia. Escrever e fazer sempre mais e mais e melhor", conclui o escritor.

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